Fúnebre vida
Que
enternece
Aquece
Adoece
Como picada
de agulha
Na gengiva
Você lembra
que tem dente
Que tem
braço
Que tem rins
?
Que a vida
te oferece essas coisas e vai te cobrar tudo de volta?
Que nada é
de graça
Que às vezes
viver é sem graça
Porque é
trabalhar, fazer, grunhir e chorar?
Às vezes não
Durante a
labuta agreste
Surge uma
flor no meio do mar do sertão
Algo que faz
com que as cores fiquem mais vívidas
Que a luz
fique mais pálida
Que o
beliscão
Fique
tinindo
Que o furacão
passe sorrindo
Ainda bem
que essa doença dura seis meses só
E passa
Mas às vezes
dá ruim
E fica dez
anos na sua cabeça, tilintando feito tamborim bem afinado
Como agogô
de seis bocas
Como batera
de seis pratos
É algo bem
delicado, vice
Tem gente
que passa na vida igual um tornado:
É bem rápido
Mas quando
se foi
Não resta
mais nada
Por isso é
complicado viver uma vida desatinada
Por isso é
choroso embriagar-se pela flor do campo tão formosa
Tão
afeminada
Por isso que
os prazeres são tão aparentemente profícuos
Mas ao mesmo
tempo tão delimitadores
De
possibilidades ou de dores
De angústias
e de amores
De frios e
de ardores
Afinal, de
contas a gente não tá aqui vivendo e isso também não é viver, oras?
Quem nunca
errou, que bata seu pé agora
E vá embora!
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FOTOGRAFIA: Masaaki Komori |