quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Cuidado com a Flor do Campo

 Fúnebre vida

Que enternece

Aquece

Adoece

Como picada de agulha

Na gengiva

 

Você lembra que tem dente

Que tem braço

Que tem rins

?

 

Que a vida te oferece essas coisas e vai te cobrar tudo de volta?

Que nada é de graça

Que às vezes viver é sem graça

Porque é trabalhar, fazer, grunhir e chorar?

 

Às vezes não

Durante a labuta agreste

Surge uma flor no meio do mar do sertão

 

Algo que faz com que as cores fiquem mais vívidas

Que a luz fique mais pálida

Que o beliscão

Fique tinindo

Que o furacão passe sorrindo

 

Ainda bem que essa doença dura seis meses só

E passa

 

Mas às vezes dá ruim

E fica dez anos na sua cabeça, tilintando feito tamborim bem afinado

Como agogô de seis bocas

Como batera de seis pratos

 

É algo bem delicado, vice

 

Tem gente que passa na vida igual um tornado:

É bem rápido

Mas quando se foi

Não resta mais nada

 

Por isso é complicado viver uma vida desatinada

Por isso é choroso embriagar-se pela flor do campo tão formosa

Tão afeminada

 

Por isso que os prazeres são tão aparentemente profícuos

Mas ao mesmo tempo tão delimitadores

 

De possibilidades ou de dores

De angústias e de amores

De frios e de ardores

 

Afinal, de contas a gente não tá aqui vivendo e isso também não é viver, oras?

 

Quem nunca errou, que bata seu pé agora

E vá embora!

Flor do campo
FOTOGRAFIA: Masaaki Komori


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Meu querido leitor, não se sinta acanhado. Fique a vontade para comentar, criticar, dar ideias... O intuito desse blog é justamente isto: que você possa ler e postar sua opinião. Interatividade é tudo. Então se sinta a vontade para dar uns pitacos!