Abraços que surgem das sombras
Na penumbra que a vontade assoma
A virada que a vida se entorna
O vinho que tomado se engoma
Não há nada mais a fazer agora
O pueril momento tardou-se
“Agora é tarde”
“Agora é tarde”
“Agora é tarde”
A noite findou-se
Com um soluço profundo de quem reclama
Que a vida não é boa
Causa insônia
Apatia e animosidade enfadonha
Um canto de urutau que abre e encerra a noite
Um carcarejo de suindara que aterroriza os vivos
E evoca e aplana a procissão daqueles que já se foram
Dos lobisomens que assaltam o gado e bebem o sangue de
crianças
Oh! Noite infame e aniquiladora dos sonhos
Evoca os menestréis a clamar pela alforria daqueles que
trabalham
A semana inteira
Sol a sol
Suor a suor
Açoite a açoite
É uma coisa que te pega
E não te larga
É como larva de berne
Como sangue suga
Que se acomoda no pântano da alma
Só é possível sair do pântano quem sabe que nele está
Ei você, já percebeu o pântano?
📷Marek Piwnicki |