Poesia capetalista

Poema sem valor

Mal pensado

Desafinado

Pensado apenas em um estalo de estupor

 

Estuporado?

 

É um poema estopim

Coisa do diabo

Coisa que aparece em noite de festim

Coisa do sabá endiabrado

 

Coisa feita sem coração!

 

Sem alma

Sem decência

Uma coisa feita apenas por fazer

Em nome de deus

Do deus mercado!

 

Que nos corrompe

Que nos vende

Que nos compra

 

Que compra um poema na praia de Copacabana

Sem alma

Nem interesse

Apenas vertigem

 

Algo para cantar a moça

Que é boa

E veio vender poema

Com aquela cara toda

 

E aquela falta de vergonha

 

Ah! Se eu tivesse talento...

📷 Debashis RC Biswas

Então é natal

Então é natal

Do velho e do novo

Do amor como um todo

 

Então é natal

Não, não é natal

Hoje é dia 26

O povo tá de bucho cheio

E cheio de raiva

Porque falou com o tio

do pavê

E teve que lidar com as tias

Perguntando porque tá solteiro

E com a vó deprimida

que é deprimida o ano inteiro

 

Então é natal

A festa cristã

Mas eu não sou cristão

Minha religião é outra:

Sou ateuzão

Toco guitarra

E só ouço metal

E no final de ano só fico de preto

E não pulo ondinha

- e depois reclama que não tem mulher nem dinheiro...

Então é Natal, o que a gente fez?

O ano termina, e começa outra vez

Sim, de novo contas a pagar

Vendas

Comércio

Finanças

Escassez

Peraí, mas isso aí é Natal!

📷 Jonathan Borba

Lógica

 Vivo dentro de minha mente

Vivo fora de minha vida

Vivo enquanto um ser vivo

Vivo devaneando o que poderia ser vivido

 

Angustiante padrão decadentista

Soberbamente o triste vivifica

Acha que a vida é só que está nas palavras

Mas a vida não se resume a uma lógica enluarada

 

As coisas não são palavras

Pessoas não são palavras

Animais não são palavras

A pedra não é palavra

 

Ao entender um objeto

Não compreendi a sua existência

 

Dizer o nome de um objeto

Não garante que tenho poder sobre ele

 

A existência não está na cabeça

A existência não está em palavras

Saber o nome de uma coisa

Não me diz o que a coisa é realmente

A coisa é a coisa em si

Outra coisa é o que a mente apreende

📷Valentin Salja

Afinal, nunca se sabe

Amo o próximo

Dou abraços e beijos

Dou carinho e atenção

E controle

Afinal, nunca se sabe...

Jogo bola junto

Sou o centro das conversas

Das histórias

Sou especial

Sempre no enfoque

Afinal, nunca se sabe...

Dou risada para todos

Cumprimento sempre na rua

Decoro nomes de cor

Sou muito importante

Uma verdadeira referência

Afinal, nunca se sabe

Tenho um bom emprego

Uma boa aparência

Pareço ter boas ideias

Sempre ando com os vencedores

Afinal, nunca se sabe...

Ando com as melhores companhias

Gente de bem

Pessoas superiores

Pessoas de requinte

Pessoas como eu

Muito superiores

Afinal, nunca se sabe...

Meu carro é o maior

Minha posição social é a melhor

Os homens invejam a mulher que eu possuo

Sou exatamente o que as pessoas gostariam de ser

Todos têm inveja de mim

Afinal, nunca se sabe...

Atuo sempre nas sombras

Destruo meus inimigos sem que eles saibam

Armo arapucas para os outros

Faço o que é necessário para vencer na vida

Afinal, nunca se sabe...

📷 Sander Sammy

Políticas Públicas

Certas políticas são públicas

Ora, mas nem todas políticas são públicas?

 

Ora sim, ora não

Ora pesa diretamente em seu bolso, outra não

 

O que é necessário saber

É o charlatanismo charmoso que se encerra

Com tom escamoso

Com escamoteamento da verdade

 

PERCEBA: aqui está expressa toda a falsidade

Utilizando termos soberbos, peguei sua atenção

Fisguei seu coração

 

Mas não se aborreça com isso não

 

Nós seres humanos somos muito artísticos

Nada práticos, como políticos

 

Se somos como políticos

Votamos como políticos

FOTÓGRAFO: Felipe Pelaquim

Ciclo

É necessário entrever

É necessário saber

Que na vida não se nasce sabendo

Que se aprende vivendo

Que se aprende a morrer

 

A cada minuto que se vive

É um minuto que se morre

A cada experiência

Bem vivida ou não

É um novo caminho para Norte

 

O Oriente Definitivo

Ali se encerra

Mas é preciso pensar

Que se trata de uma passagem

De uma nova aventura

De nada que se desterra

 

De nada que o Nada

Então se eleva

Fotógrafo: Mohamed Nohassi

O que é o samba?

O samba é uma energia

Uma força da Terra

Uma força telúrica

Algo que te pega de jeito

E vai!

 

Te deixa de queixo caído

 

O samba é uma energia

Uma força do fogo

Que esquenta a gente

Te deixa todo suado

Te deixa ardente

Algo que te pega de jeito

E vai

 

O samba é uma energia

Uma força da água

Que amolece a gente

Te deixar com os olhos marejados

Algo que te pega de jeito

E vai

 

O samba é uma energia

Uma força do ar

Um contato com a ancestralidade

Com os antepassados

Que em uma bela noite de luar

Voltam para sambar com a gente

E com a nossa alegria se embriagar

 

É algo que pega de jeito

E vai

Imagem: Luciano Raul

Coisa séria

 Por que a gente faz piada com religião?

- Porque religião é coisa séria

Por que a gente faz piada com Governo?

- Porque Governo é coisa séria

Por que a gente faz piada com futebol?

- Porque futebol é coisa séria

Por que a gente faz piada com a família?

- Porque família é coisa séria

Por que a gente faz piada com a Economia?

- Porque Economia é coisa séria

Porque a gente faz piada com Gramática?

- Por que Gramática é coisa séria

Por que a gente faz piada com o trabalho?

Porque trabalho é coisa séria

Por que a gente faz piada com chefe?

Porque chefe é coisa séria

 

Por que a gente só faz piada com coisa séria?

- Porque piada só se faz com coisa séria, uai!

FOTÓGRAFO: Derek Story

Transição

Esquálidas

Esquadras

Em praças

Fluídas

Fulgurantes

Que apetecem os olhos

Aquecem o coração

E permeiam a vida

 

Vibrações

Emanações

Liquefeitas

Em bolhas

Vívidas

Tão distraídas

Que se valem da existência

Que se criam

Que petulantes se fiam em dubiedades frívolas

 

Estridentes

Maracas

Qual matracas

Que acompanham a procissão

Tudo ficou tão roxo

Tão esquálido

Lá vai o Cristo Morto

Hoje é dia de Procissão

É quinta-feira santa

Rezam os fieis

Desabrocham-se os infiéis

O clima é tão diferente

É tudo tão triste

Tão sonolento

E taciturno

 

Acordei de um sonho?

Era tudo tão repentino

Tão violento

 

Tão desgarrado

Tão obscuro

Francesco Alberti