Noite regada a suor e pesadelos
Com sarcasmo em seu ventre
Que traz tristeza ao peito
E preocupação para a mente
Com olhos fundos e mareados
Cheios do vazio soturno
Cheios de vida...?
Não, cheios da vida!
Cheios do cansaço perene
Que tarda em se cansar
Mas que quase nunca se cansa
De estar cansado
É uma figura mítica.
Um conto mal fadado
Um personagem simbólico
No imaginário impregnado
É o construtor, de Chico
Que beija a mulher
Como se fosse a última vez
É o padeiro que repete
Seus pãezinhos todos os
Dias sem cessar
É Fabiano, de Craciliano
Que leva Baleia ao Céu
E sua familía ao agreste
É o engenheiro que
Não para de engenhar
É Pedro Bala, de Amado
Que luta desde menino
Pela sobrevivência no areal baiano
É o vendedor que gasta
O que lhe resta de voz
Para não lhe faltar à família
É a vida que não cansa de viver
É...
Mas a vida é um erro
Um incidente
Um desgosto sarcástico
Do universo
Fadada ao caos
Ao nada
Ao imaterial?
Talvez
Mas aos descrentes (como eu): nada
Resta apenas o cansaço
Descansando sobre meus ombros cansados
Sobre meus ombros que um dia
Vão definhar como a vida
Vão se esquecer desse mundo
Vão retornar ao universo
Vão descansar