segunda-feira, 16 de julho de 2018

Barata de armário

Barata boa vida

Que não conhece

O lado sujo da avenida

Que delimita

A vida das baratas de esgoto

E daquelas que estão

Na boa vida


Criada a base

De leite pera

Sucrilhos, Nescau

E erva-cidreira

A barata gourmet

Não sabe o que é o ralo

Nem surfar pelo chuveiro


Não sabe nadar

Nem come sujeira

Mas sente ranço

Dos restos da pia

"Ai que nojeira!"


Barata de armário

Que não conhece a doidera

Não toma cerveja

Não foge de lagartixa

Nem come batata doce

À beira da fogueira


Ah! Barata!

Nada mateira

Te encontrei no meu armário

ZAP!

Vai para a lixeira



Dinheiro

Dinheiro compra sexo, mas não compra Amor

Dinheiro compra remédios, mas não compra Saúde

Dinheiro compra prazer, mas não compra Felicidade

Dinheiro compra o efêmero, mas não o que é da Eternidade

Dinheiro compra, adquire e até flutua

No câmbio, fluta

Mas será que nos intermédios diários

- os intercâmbios da vida -

os sentimentos compra?

.........

Compramos por comprar

Para satisfazer necessidades que são como nós: efêmeras

Somos efêmeros, mas depreciamos o que somos: efêmeros

Não somos belos

Não somos eternos

Somos filhos da terra

E para a terra voltaremos: duramos um pouco mais que uma mosca

...........

Talvez, por isso, gostamos tanto de comprar

Comprar é um ato efêmero

E como efemeridade

- praxe que se dispersa na eternidade -

tende a seguir o ciclo

E aos mestres entoar:

Todo que é sólido, se dissipa no ar


quinta-feira, 12 de julho de 2018

Inglaterra versus França: III Guerra Mundial

A tão sonhada final da Copa não aconteceu na vida real. Mas papel aceita tudo e o futuro também.

Por isso, entenda este pequeno texto como um descompromissado exercício de futurologia.

E neste exercício futurológico, eliminemos sumariamente a Croácia, que para começar não tem nenhum título mundial. É hoje um time simpático e interessante. Sim, claro. Mas não é o país que criou o footbal. Por isso, xô Croácia. Xô! Nesta realidade paralela você foi eliminada.

E como tal, ocorre o conflito final, o pretexto derradeiro para a III Guerra Mundial, a tão sonhada final entre Inglaterra e França.

Tudo começou no Brexit. E, dessa forma, a situação não estava bem entre as duas nações, lembrando-se que é um exercício de futurologia, apesar da eliminação - por birra minha - da Croácia. Aqui, ela não existe.

Voltando a III Grande Guerra, dessa vez não motivada pela Alemanha, que caiu pela 3ª vez na Rússia - sim, emprestei a piada do Putin - mas pelo footbal.

Pensemos: o que seria mais pretexto para uma guerra mundial que uma final de Copa entre França e Inglaterra, lembrando que esses povos ficaram 100 ANOS EM GUERRA?

No final do supracitado conflito, os guerreiros nem sabiam porque estavam em guerra.

Perguntavam-se: por que estamos em guerra?

E respondiam: porque sempre estivemos.

Logo, por isso, essa final na ponta das baionetas seria magnífica.

Afinal, ingleses e franceses têm uma histórica relação bilateral sanguinária. São duras de matar.

Para começo de conversa, quase todos os grandes conflitos europeus envolveram diretamente essas duas nações e durante 500 anos a relação entre ambas era na base de espadas, catapultas e óleo fervente.

Voltando ao futuro e imaginando o cenário de caos, consultariam-se as árvores genealógicas e se descobriria que o goleiro da França teve o bisavô morto pelo tataravô do centro avante da Inglaterra.

Fora de campo, professores de história suscitariam os conflitos históricos:

- "Aqueles malditos Yankes trouxeram-nos grandes prejuízos na Guerra de libertação dos EUA!"

- "Aqueles franceses bundões colocaram nossos irmãos em campos de intervenção quando Hitler invadiu Paris!"

Gritos de ódio incendiariam Paris e Londres.

Nacionalistas queimariam a bandeira do inimigo em praça pública.

Franceses fariam isso cantando La Marseillaise e tomando um bom vinho da terra. Prontos para o embate.

Ingleses ficariam bêbados e destruiriam Londres antes do embate final.

E todo ódio do mundo entraria concentrado em campo.

É sangue. É ódio. É a III Guerra Mundial.

Um ódio milenar e sem igual, desde a época dos povos bárbaros, em que prevalecia a lei do mais forte - aquele que mais mata. "VIVA, ÁTILA HUNO!"

E é essa final de Copa do Mundo que quero ver.

Com muito sangue nas travas das chuteiras, hooligans e baionetas!!!



quarta-feira, 4 de julho de 2018

Alô, Deus?

- Alô, Deus, tudo bem?

- Tudo bem, Fábio. Por que não conversou comigo ontem a noite?

- Nossa, Deus, já falamos sobre isso...

- Eu compreendo, mas você sabe que sou um Deus ciumento, está na Bíblia.

- Sim, está na Bíblia, mas os teólogos explicam que não devíamos levar tudo ao pé da letra. Principalmente os livros do Antigo Testamento.

- Sim, claro. Não faça isso. Ou no passado você poderia ter votado no Trump. Aquele cara não veio para o céu.

- Nossa, Deus, fazendo fofoca, hein? Que feio!

- É, Deus tem os seus defeitos também... Tem uns filhos que criei com muito amor, mas que são um pé no saco. Melhor mandar para o inferno.

- Pois é..

- Tem uns caras muito ruins da ideia mesmo, mas o senhor acha que não tem nenhuma responsabilidade nisso, já que os criou?

- Está afirmando, mortal, que erro nas minhas criações?

- Não SENHOR! Eu queria dizer que, que, que...

- Hahahahaha

- Ah! Deus!

- Rapaz, você acabou de me dar uma bela explicação que não deve ler os livros do Antigo Testamento ao pé da letra e basta eu falar grosso um pouquinho que você quase se borra todo? Estou vendo daqui. Hahahaha

- Pois é, Deus, você me pegou. Hahahaha

- Peguei mesmo.

- Então, Deus, é que estou meio ocupado...

- Está muito ocupado para Deus?

- Deus, o senhor não acha que é muito demodê ficar usando essas frases clichês que os religiosos chatos ficavam distribuindo nas portas das igrejas?

- Eu acho, mas sou um senhor de idade, tenho alguns trilhões de anos, lembra?

- Verdade. Desculpe-me, não quis parecer ingrato ou presunçoso.

- Tudo bem, você é assim, mas eu o perdoo. Sempre perdoo.

- Muito obrigado. Sinto-me mais leve. E vou tentar refazer a pergunta, posso?

- Claro, sempre tentando, isso que é importa.

- Senhor, Deus, a sua ligação teve uma finalidade específica? O Senhor quer precisar de mim para alguma coisa?

- Não, não. Só queria conversar com você. Ouvir a sua voz. Você é meu filho e eu te amo.

- Nossa..

- O que foi?

- Desculpe-me, pensei algo que senti que foi desrespeitoso...

- Não tem problema.

- Ah! Se o Senhor soubesse o que pensei...

- Ah! Meu filho, eu sei algumas coisas. E algumas delas são relacionadas aos seus pensamentos.

- Nossa, então o Senhor sabe o que eu pensei?

- Claro, sou onisciente, lembra?

- Nossa, isso quer dizer que estou frito?

- Hahahaha. Não por isso rapaz. Não fritei nem aquele povo do Vale do Silício que falava que era bonzinho, mas usava mão de obra infantil escrava na China, e vou fritar justo você? Não...

- Nossa, mas foi justamente graças ao Vale do Silício que estamos conversando.

- Claro, claro. Mas os fins não justificam os meios, lembra?

- Claro!

- Justamente, por isso, permiti que o CEO da Orange descobrisse um jeito de vocês falassem comigo.

- Nossa, o que ele tem de especial?

- Tem um bom coração. Por conseguinte, tem uma empresa super responsável e comprometida com o bem estar social e com o meio ambiente. A Terra está melhor com ele e quando ele falecer, vou trazê-lo para junto de mim.

- Falando em fruta, empresa... E o CEO daquela outra empresa gigantesca do século passado com nome de fruta?

- Aquele que as pessoas idolatravam e que criou meios incríveis de vocês conversarem entre vocês?

- Isso, isso...

- Pois é, rapaz, esse não está muito bem não...

- Por quê?

- Ah! Ele foi um daqueles que mais usou mão de obra infantil chinesa para fabricar os celulares...

- Que pena.

- Uma pena mesmo. Criei-o tão belo e tão dotado de inteligência, mas usou isso para seu ego. Uma pena mesmo.

- Então, Deus, preciso trabalhar..

- Tudo bem. Se eu os amaldiçoei com o trabalho, essa desculpa eu aceito.

- Ah, propósito, poderia ligar para meu chefe e dizer que estou doente?

- Você está doente?

- Não.

- Eu sou Deus, não minto.

- Tudo bem...

- A propósito, conclua aquele pensamento que eu ouvi e que te deixou desconcertado.

- Nossa, Deus, posso mesmo? É que tenho que trabalhar.

- Tudo bem, parei o tempo para nós dois. Desembucha!

- Ai, sério? Estou com vergonha.

- Não tem porque ter vergonha, eu sei quem você é e se você pensa desse jeito é porque tem uma finalidade. Lembre-se, eu te criei assim.

- Posso mesmo?

- Pode.

- Deus, o Senhor não está, digamos, banalizando um pouco a sua presença entre nós? Antes era tão difícil conversar com o Senhor e com a sua legião angelical...

- Facilitar não é banalizar...

- Sim, claro. Mas é que não compreendo porque o Senhor não fez assim desde o começo.

- Você e o resto da humanidade.

- Então posso perguntar?

- Pode!

- Por que o Senhor não fez assim desde o começo?

- E qual seria a graça?

- Nossa, não entendi.

- Vou desenhar... Na Bíblia, consta que todas as vezes que agi na Terra depois do nascimento de Adão, foi por intermédio dele ou de Adão. Sabia disso?

- Nossa, não sabia.

- Interessante, não?

- Sim, muito, claro!

- Pois bem, estava esperando que um de vocês criasse um jeito de me comunicar com vocês do mesmo jeito que fazia com a Adão.

- Entendi, então o Senhor quis depender de nós, é isso?

- Isso, como sempre.

- Nossa, e facilitou bastante.

- Achou mesmo?

- Sim, claro. Antes era muito complicado com todos aqueles símbolos e aquele monte de intermediários falando em nome do Senhor. Muito confuso.

- Eu sei, por isso sempre soube que teria que facilitar as coisas.

- E porque foi há pouco tempo, recentemente?

- Tudo tem sua hora.