quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Eu era poeta

Eu era poeta

Não, não era

Eu escrevia poemas e poesias

Malabarismos com palavras fazia

Mas não era poeta

Eu era um bêbado, um boêmio, um trôpego

Escrito à luz do vinho

Que bebia a noite

E vomitava à lua

À rua me tornava

A rua me tornei

Em mansidão entranhada

O amor me tornei

Amava minha vida

Me amava quem era

As mulheres, os cigarros, a bebida

A ansiedade...

Tudo eu era

E nada me tornei

O que então eu sei?

Apenas que nada sei

Que nada era

Na vida em que fui rei

Fui vários nessa vida

Mais boêmio, mais sôfrego, mais ilustre

Pedestre, caminhante em direção ao nada

Que é o tudo

Que no luto diário me aflige

De tal forma que o peito rasgue

Ainda penso nela...

E isso tanto me persiste

Mas assim é a vida

De peito em riste

Eu a enfrento

Com poesia e lamento

Com poema arrebento

A solidão diária

Que relato solidário

Ao escravo, ao trabalhador, ao operário

Ao livre servo

Que seu pranto desterra

Que a poesia exalta

E tudo em volta

Transforma, expande e a vida encerra

Resplandecendo

Como no copo de poesia embebido

No sol do meio dia

Com cachaça regada ao gosto de trabalho

Com sabor de rescaldo

Com sabor de poesia

Em sopa de azia

Eu era poeta

Juro! As palavras construía