quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Ânima

Abraços que surgem das sombras

Na penumbra que a vontade assoma

A virada que a vida se entorna

O vinho que tomado se engoma

 

Não há nada mais a fazer agora

O pueril momento tardou-se

“Agora é tarde”

“Agora é tarde”

“Agora é tarde”

A noite findou-se

 

Com um soluço profundo de quem reclama

Que a vida não é boa

Causa insônia

Apatia e animosidade enfadonha

 

Um canto de urutau que abre e encerra a noite

Um carcarejo de suindara que aterroriza os vivos

E evoca e aplana a procissão daqueles que já se foram

Dos lobisomens que assaltam o gado e bebem o sangue de crianças

 

Oh! Noite infame e aniquiladora dos sonhos

Evoca os menestréis a clamar pela alforria daqueles que trabalham

A semana inteira

Sol a sol

Suor a suor

Açoite a açoite

 

É uma coisa que te pega

E não te larga

É como larva de berne

Como sangue suga

Que se acomoda no pântano da alma

 

Só é possível sair do pântano quem sabe que nele está

 

Ei você, já percebeu o pântano?


Homem à frente em uma estrada para o horizonte
📷Marek Piwnicki


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