Aprendi a me afogar
Em quem sou
Para deixar de existir
Para inexistir como sou
Para ser como gostaria
Mas assim eu não o sou
Não sou matemático
Nem centroavante
No máximo
Um plácido poeta
E indolente comediante
Mas esse não é um problema meu
Ou melhor
Não é somente meu
Esse é um problema divino
Divino e humano
Porque seres divinos não têm problemas
Seres humanos os criam
Os problemas
E dizem que são problemas divinos
Mas nunca seriam divinos
Porque errar é humano
O Sol não é humano
É Apolíneo
É retilíneo
É a força bruta
A chuva de energia que rega a vida na Terra
A força que faz emergir a luz na escuridão soturna
Mas a vida...
A vida não é sobre a Lua
É sobre o Sol
É sobre trabalhar
Suar
É sobre errar
É o caminho errante em direção à morte
Viemos mortos sonhando com a vida
Por isso!
Matamos a noite
Adoramos ao dia
Não admitimos o descanso
Nem o remanso
Apenas o dia
Apenas a labuta
Nem esvanecimento
Elevamos o masculino
Apeamos o feminino
Diluímos a vida
E nela, a nós nos diluindo...
Mas viva,
Sofia
Ela está
Em nosso inconsciente
A Sofia
Enterrada viva
Está
Em sono eterno errante
Adormecida,
Guarnecendo as emoções
Enterradas vivas
Que, dizia o filósofo
Nunca morrem
Mas permanecem vivas
E surgem como monstros
Assim, monstros é o que nos tornamos
Quando nos negamos o direito de ser
Aquilo que somos
Mais do que simples cascas
Mas divinamente humanos
Seres humanos
É isto que somos
É isto que nos tornamos