sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Lucidez?

Noite regada a suor e pesadelos
Com sarcasmo em seu ventre

Que traz tristeza ao peito
E preocupação para a mente

Com olhos fundos e mareados
Cheios do vazio soturno

Cheios de vida...?

Não, cheios da vida!

Cheios do cansaço perene
Que tarda em se cansar

Mas que quase nunca se cansa
De estar cansado

É uma figura mítica.
Um conto mal fadado

Um personagem simbólico
No imaginário impregnado

É o construtor, de Chico
Que beija a mulher
Como se fosse a última vez

É o padeiro que repete
Seus pãezinhos todos os
Dias sem cessar

É Fabiano, de Craciliano
Que leva Baleia ao Céu
E sua familía ao agreste

É o engenheiro que
Não para de engenhar

É Pedro Bala, de Amado
Que luta desde menino
Pela sobrevivência no areal baiano

É o vendedor que gasta
O que lhe resta de voz
Para não lhe faltar à família

É a vida que não cansa de viver

É...

Mas a vida é um erro
Um incidente
Um desgosto sarcástico
Do universo
Fadada ao caos
Ao nada

Ao imaterial?

Talvez

Mas aos descrentes (como eu): nada

Resta apenas o cansaço
Descansando sobre meus ombros cansados

Sobre meus ombros que um dia
Vão definhar como a vida

Vão se esquecer desse mundo
Vão retornar ao universo

Vão descansar




sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Perversão Diária

Sabe aquela transa?

Então... Ela nunca acabou. Nunca, nunca, nunca. Nunquinha mesmo.

Você ainda treme de prazer. Sente aqueles detalhes em suas mãos. Coisa de pele. De ouvido. De sangue. De fluídos. Gostoso. Tremido, mexido e pernoitado. No jantar e no café da manhã. Quando dá sorte, no almoço. Quem sabe de novo no jantar?

Ah! Delicia.

Mas não é só aquela transa.

São aquelas transas. Todas, todinhas. Uma por uma. Te incomodam. Te incitam.

Na distração do elevador. Quando estuda, quando fica sonolento (ou sonolenta!) na frente da TV. Fica sentado lembrando daquele corpo. Sim, daquele corpo que ficou bem disponibilizado em cima. De onde, não sei.

Um prazer laboral inesquecível. Nunca o ato de realizar trabalho foi tão interessante.

Lembram-se dos detalhes, dos dedos. Da boca, da ...

Melhor evitar esse palavreado, não é?

Mas aquelas transas...

Tão boas, tão passageiras, tão permanentes. Um vício.

Quanto mais se tem, mais se quer. Uma verdadeira perturbação. Um incômodo.

Mas vale a pena quando se encontra alguém tão incomodado quanto, não?

Aí os incômodos são preenchidos com perturbações instantâneas bem localizadas. Mas logo se vão embora com a vontade morta.

No dia seguinte vem a lembrança e se não há alguém disponível, não há como apagar o incômodo.

Bem... há como. Mas dizem que esses métodos pessoais não são interessantes. Apenas um delírio rapidinho para apagar o fogo.

Aja fogo!

E você se lembra, não é?

A quanto tempo foi sua última vez?

Ontem, hoje? Ano passado?

Exagerei, não é? Deveria ter ido mais devagar?

Está bom para você?

Está gostando?

Sim, já está imaginando, eu sei.

Seu gosto pelo sexo é do tamanho da sua mente. Infinito. O seu corpo é apenas o local aonde os pontos são acessados. Mas o computador está dentro de você. E não fora. Fora estão outras coisas.

Ui!

Não agora.

Dá para esperar mais um pouquinho.

Tem certeza?

Bem... continuemos.

As certezas das necessidades humanas te levam a distrações. Sempre acabam em sexo.

Freud só pensava nisso, estudava isso, vivia para isso. Apenas não fazia muito, dizem.

Dizem que quem fala demais faz pouco. Por isso que esse artigo não é uma teoria sobre o sexo. Mas apenas uma distração para atiçar sua curiosidade.

Sim, pura banalidade. Safadeza plena. Daquelas bem vagarosas. Que escorrem pela nuca e terminam em...

Deixa para lá, você já entendeu.

Não tem vergonha?

Aliás, se você chegou até aqui, não tem vergonha alguma.

Não tem vergonha de não ter vergonha? Coisa feia!

Feio nada. Feio é não se divertir. Ficar na mão...

Sem duplicidades, ok?

A vida é cheia de inusitados.

As vezes você está em uma festa - sim você já começou a se lembrar - e conversa despretensiosamente com os amigos. Começa com uma cerveja, depois vai para algo mais forte. Depois toma algo que te dissolve. Te deixa mole, mole.

Por fim, tem alguém em cima (ou embaixo) de você.

Coisas da vida, não?

Os seres humanos se organizam para várias coisas. Sexo não é exceção. Não que tudo implique em orgias. Não que não possa implicar. Bem... melhor deixar para lá.

A vida é cheia de brincadeiras, as vezes ela chama para brincar... "Vem cá, meu amor", ela diz.

Ela não tem tempo. Você tem. São coisas do dia e da noite - melhores se forem quentes, não?

A hora passa. Não, não passa.

E você fica se lembrando ao se deitar. Pensa no que aconteceu naquela outra noite. Todo dia é assim. Ao se deitar, se ri e se diverte de novo. Um ciclo infinito - do tamanho do seu universo. Pois suas necessidades não se findam. E você gosta.

E você se lembra.

Sempre vai se lembrar.



quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Breve ensaio sobre a Morte

O que há na estrada dessa vez?

Queria apenas refletir sobre o sentido da vida. Mas a vida é repleta de dissabores e da mais falta de discernimento. Para lidar com isto, nada como uma prosa poética para tratar a nada irremediável dor que apenas passa com a doce e inexorável morte.

Ela é dura. E dura. A eternidade. Mas e o resto?

Nada dura. Talvez até mesmo o conceito de morte. Por que de fato ela existe apenas porque a vida existe e quando não mais existir vida, não existirá mais morte. Morre de fato. Nas ideias e no existir. Porque o que está morto não morre. Jaz.

O clichê a única certeza da vida é a morte nunca me pareceu tão mais claro.

Mercado, moral, ideologia são conceitos. Mas que morrem. Morrem lenta e dolorosamente com as desinterpretações da vida. Com as burrices de quem não entende. Com a inexpressividade de quem se cala ou fala demais. Enfim. Ideologia, eu quero uma para viver. Só porque é clichê. E que morra!

A ideologia mata. E salva.

Ideologia são ideias. Cara. Se você não matou alguém é porque te disseram que isso é errado. Ou, se você matou é porque te disseram isso e você ignorou. Você matou a ideologia de que matar é errado! Mas começou a viver com a ideia de que matar faz sentido. Às vezes, quando é necessário. Ou sempre. Apenas só para se divertir.

A propósito, você guarda os seus mortos no porão?

Bem, não quero saber. E não quero fazer parte deles, ok?

Então poupe-me. Por que não sou obrigado.

Ai que vida chata.

Muito chata.

Chata a ponto de eu redigir um texto non sense como este. E chata ao ponto de você perder o seu tempo a lê-lo.

Tempo é dinheiro, meu caro. Não vá perde-lo.

Dinheiro = tempo = vida.

Dinheiro é vida.

Sim e não. Mas não mas é.

Dinheiro = vida  = morte. Afinal, quem vive morre. E quem vive se mata. Se mata literalmente. Ou por dinheiro.

Ai, se mata!

Vá embora!

Que non sense a instigante vida. E a morte que a acompanha.

Morte é vida porque a morte nasce da vida. Vida sem morte não há. Morreremos. Sim, é assim mesmo. Morreremos. A nua e crua e dolorosa verdade. Talvez iremos para o inferno. Ou não. Tanto faz. Não viveremos para saber. Apenas cairemos.

E jazeremos felizes para sempre.

Ah! Morte que namora e me acompanha todos os dias. Sem edição. Sem prova, sem evidência.

Por que ninguém sabe o que é.

Interessante não? Todos sabemos o que é a morte. Mas não sabemos.

Você sabe o que é a morte?

Não me venha com teológicas! “A morte é a separação da alma do corpo ... bla bla bla”

Quero explicação real!

O que é a morte?

A morte sou eu te interrogando aqui, fazendo você perder o seu preciosíssimo tempo. A morte é você com a cara enfurnada nesse computador maldito. A morte é o seu chefe gritando com você. É o assédio moral diário. A morte é terrível, lenta e ineficiente. Leva hoje uns setenta anos para chegar.

Mas isso importa?

Ela vem!

Ela vem na frente de um caminhão. Do piano que despenca. Do gás acumulado que escapou do bujão. Do seu chefe que gritou com você e você escorregou do último andar. Estava lá, despreocupado. Bem assim, despencou. E foi caindo, caindo, caindo, caindo...

Morreu.

Mas esse texto não morre assim.
Esse texto é um espírito de morte, com mau humor. Às vezes mau humor parece à morte, não é?

A morte esta na estrada dessa vez.

A longa estrada da vida dá na morte. Dizem que você anda com quem você parece. Mas apenas acompanho mortais. Alguém conhece algum McLeod para me apresentar?

Não? Que pena.

Foi só um recurso linguístico.

Viver é muito chato. Um dia eu morro e acabo com isso logo. E acabo com esse texto também.

Mas ele não morreu. Não agora pelo menos.

Quanta ironia não? Quanto mau humor mora em meu peito.

Tudo porque é mais fácil ser mau humorado. Ser feliz é estranho.

Existe gente feliz, sabia?

Queria saber como elas fazem ou se é apenas falsidade mesmo.

Dizem que ser feliz é um ato de decisão. Ah! Que chato. Melhor seria ser feliz e pronto.

Você acorda, pega o ônibus às seis da manhã. Sai do trampo às cinco, pega mais ônibus lotado. Paga contas. E ainda querem que você seja feliz.

Veja bem. Quanta falsidade.

Ser feliz é coisa de gente louca. Não faça isso. Apenas faça como as outras pessoas, finja!

Isso finja. O importante é parecer, não ser. Por que ser feliz já é demais.

Esse texto já é demais.

Cansei.

Ainda não.

O que há na estrada?

Desilusões. Dores. Incertezas. Vida acabrunhada e cansada. Uma morte por dia.

Ah! A morte, você já tinha se esquecido.

Mas você vai lembrar hoje antes de dormir.

Você vai morrer.

Vai.

Morrer.

E daí? Todo mundo vai morrer, sabia?

Pois é. Morreremos.

Essa é a nossa estrada.

Essa estrada leva ao longe. A muitos pensamentos. A muita falta de foco. A muitas estradas.

Mas uma coisa tem graça.

Cada um tem sua estrada. Como escolher a melhor.

Como ou sem morte?

Opção errada.

Mas a morte virá. Do nada. Ou não. Lenta e dolorosamente nas mãos de um psicopata.

Já pensou em ter uma conversa em pessoa com Charles Manson, bem ao pé do seu ouvido? Dizendo e explicando o que vai fazer como você?

Nas mãos dele seria apenas um abjeto.

Mas não hoje. Ainda não.

A morte ainda não te pegou.

Boa noite.








segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Tragédia Grega (Na falta de um nome)

Poema em popa
Leme no chão
Sintaxe incorreta
Brum brum ba ra bão

Cabrum em teu cérebro
Brainstorming em teu ego
Tão cego
Inimigo número 1

Ah! Doces palavras
Sintaticamente arrumadas
Tão desarranjadas
Por que a vida
Ela! Ela bebeu a laranjada

Peço desculpas ao leitor
Semântica não é meu forte
Não hoje!
Nem nunca
Morro de fome
Mas a poesia irrompe e triunfa!

Triunfa triunfalmente
Ah! Um pleonasmo indecente
Uma rima pobre, experimente
Mente
Simplesmente
Mente, mente, mente
Mente tanto
Parece um político

Mentira
Político não mente
Mas também se não houvesse a mentira
Não haveria política
Por que não teria político
Político é quem faz a política!
Ops!
Mentira, político não mente!

Quem mente são as palavras
Jogadas a barlavento
De vento em popa
Um intento
Degusta o sentimento!
Que a vida passa
As palavras passam
Só fica o momento

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Em bloco de notas

Em bloco de notas

Em bloco de notas
Para noite acabar
Um sussurro no escuro
Um sinistro olhar

Um desejo insólito
Uma graça a rosnar
Um cão que passeia
Escurece o ar

O mergulho
O noturno
Que antecede
o fado diurno

A morte
Fecunda
Ave fênix
Ilumina
O preparo
Soturno
Para o imaginário
Risonho
Um sonho
Um destino
Amarelo
Singelo
Taciturno
Esquecido
Como fênix
Ressurge
Da noite

São plumas
Escondidas
Pelo ar

sábado, 17 de janeiro de 2015

Desabafo

Poesia uma ova!
Vem-me a cabeça e vai-se embora
Depois de dois anos, oras!
Definitivamente não era a hora

Vai-se logo e não se despede
Insinuação doce que me azeda
Alegria tinhosa que me afeta
Desafeto minha raiva latente desperta

Que raiva sim! Que ira!
Ah! Quantas mentiras
Dessa safada que me atiça
Que minha mente atina
Pretende me desvirtuar

Mas me reviro sim, me viro!
Com essa estrofe firme eu findo
Uma tragédia de dois anos afinco
Seiscentos e tantos dias, que atino!
Posso dormir sorrindo

Vou co'a poesia me deitar

sábado, 9 de agosto de 2014

Mais um olhar

Obsceno e prático olhar
Um aquário translúcido e vivo
Um mar inundado de emoções
Um larápio do tempo, um rio
Um labirinto de desilusões

Massa crítica e furiosa
Um Azul que a alma fende
Tensão para o mar adentro
Luz na escuridão noturna
Luz para o abissal alento

Azul malígno e etéreo
Um suado e sanguíneo remédio
Uma sinistra mistura de ódio e desejo
Uma brincadeira, uma viagem ao Tejo
Uma ótima oportunidade para se aventurar
Em um obsceno e prático olhar.


domingo, 3 de agosto de 2014

Poesia da madrugada

Poesia da madrugada
Que afina a vida em puerilidade amargada
Que retira a alegria e põe-la de volta
Que ensina o tonto e o sábio esnoba

Poesia de madrugada
Em lapso às pressas assoma
A minha porta como aurora
Na noitada, na penumbra
Quando o silêncio profundo retumba

Poesia da madrugada
Feito a noite enrugada
Feito Ouro Preto embrumada
Feito minha vida inebriada
Feito fel, feito navalha
Traz-me alegria de volta?
Traz-me a dor de sorrir
Traz-me a revolta apaixonada

Traz-me a poesia da madrugada

sábado, 20 de abril de 2013

Preguiça

Ah! Que vontade de fazer nada
Ah! Que delícia é enrolar
Fazer é angustiante
Nada mais dá angústia do que ter o que fazer
Negar as regras, negar tudo
Isso sim me dá prazer
Mas até nisto:
Em negar o fazer
Ele ali está
Negar é Fazer



sábado, 13 de abril de 2013

Numa fila

Fi-lo bem
Em filar da Filomena
O filete de fumo turvo
Da fila em que tão fulo fiquei

Daí um fulano infundado futrico criou
Do meu fino fumo falou
Sem feeling, finese ou finesa:
"Esse fumo fedido é dureza"

Com olhar furioso o fitei
E em frementes firulas bradei:
"Finda a vida e essa fumaça co'ela vai
Finda o féu de tua fala tão fugaz

Finda o verde floral enquanto é tempo
Finda o frio, finda a fome, finda o vento
Finda a França, a Romênia e a Finlândia
Finda o Universo em furiosa miscelânea

Finda o fim, pois a isto ele é fadado
E ao fim foi-se indo enquanto eu falo
O meu filado fumo esfumaçado
Com a fila foi-se indo sem fumá-lo!""