sábado, 25 de junho de 2022

Inexistência

Despertador

Luz

Porta

Banheiro

Vaso

Pia

Água

Cozinha

Pão

Manteia

Café

Despertador

Chaves

Porta

Carro

Trânsito

Buzina

Carros

Ônibus

Bicicletas

Porta

Garagem

Porta

Trabalho

Folhas

Pagamentos

Planilhas

Barulho

Planilhas

Contas

Servidor

Almoço

Servidor

Planilhas

Contas

Planilhas

Contas

Relógio

Porta

Garagem

Carro

Trânsito

Mochila

Portaria

Porta

Porta

Sala de aula

Cadeira

Caderno

Lápis

Intervalo

Porta

Pátio

Porta

Sala de aula

Cadeira

Lápis

Borracha

Caderno

Garagem

Carro

Portaria

Porta

Casa

Acender a luz

Sal

Pimenta

Azeite

Arroz

Feijão

Bife

Ovo

Microondas

Mesa

Arroz

Feijão

Bife

Ovo

Banheiro

Vaso

Pia

Cama

Streaming

Livro

Cama

Fim da inexistência




quarta-feira, 15 de junho de 2022

Acabou

É tanta pressa

Que a vida passa tão depressa

Desapega!

Que já foi

Que já se foi

Acabou


É uma quimera

Um festim sensual

Pura percepção orgânica

Tão natural

De que perecer

É duvidoso

Mas parecer

É essencial


Em uma vida efêmera

O instinto acalenta

Dá sentido

E oxigena

Com boa pena

De escritor

Que se atenta


Aos fatos

Ao que ficou

Ao que se foi

Era apenas um sopro

Acabou



terça-feira, 7 de junho de 2022

Plágio

Cada vida é igual a um plágio

Uma após a outra cometemos os mesmos erros

Vítmas da ancestralidade, da brutalidade

Do ego, do dessassossego

Vivemos em um mar de lágrimas

Salgadas, ávidas de atenção

Cheias de dor

Sem carinho

Sem pudor

Sem nada

Além de um imenso vazio

Que impera

E se desfaz

Como o Caos

Ele impera

E somente Ele

Ele é o Princípio

O fim

O relojoeiro

Deus, Uno e Trino

Gadu?

Aquele que persiste

Nós?

Não existimos

Porque somos um sopro

Bate e nos leva a brisa

Voltamos para as estrelas



terça-feira, 28 de setembro de 2021

De repente

Você ficou velho e não acredita em mais nada

Porque aprendeu

Que pessoas realmente

São cartas marcadas


Compreendeu que são como a Justiça

O Mago ou o Diabo

E que na realidade

Cartas de Tarot são pessoas disfarçadas


Pessoas de Tarot são cartas marcadas


Marcadas pela vida

Pela previsibilidade

Foram todos os dias as mesmas cartas

Que esqueceram que são de verdade


Cartas marcadas são pessoas de verdade?


Talvez sejam

Ou não


É certo que é difícil compreender

Porque o arquétipo fala

Clama e infunde a maldade

Freud refuta

E Jung explica:

"É tudo questão de Sincronicidade"


Mas se o inconsciente é coletivo

E a humanidade é universal

Aonde fica a tal qualidade individual?


Perde-se na totalidade

Das cartas marcadas

Pela maldade

Pela lascívia

Pela repugnância

Ao amor e a caridade


Pessoas de caridade são cartas marcadas de verdade?


Talvez sejam

Ou não


Mas há uma realidade

São belas e de várias cores

São de várias qualidades


São taciturnas, oblíquas

Mas, às vezes, há sinceridade

Se na eventualidade do caos

Surge a fraternidade


O Ego acorda e o Eu inflama

Dissolve-se a dualidade

O Mundo Todo sorri

As cartas voltam para o deck

E se infundem pela Existência na imaterialidade


Agora há pessoas de verdade

por Daniel Dara



segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Vida

O que esperar da vida, senão a morte?

Mas... Se se espera a morte, é necessário viver a vida

Redundantemente: a vida. Um Carpe Diem a cada minuto, a cada segundo, a cada nano-segundo

Como diria Sidarta, o Gautama: é preciso viver como se nossos cabelos estivessem pegando fogo

Porque a morte vem

Naturalmente vem

Ela te abraça

Para o final

Ou para um novo início

Tanto faz

O que importa é que ela vem

Ela te liberta

- Quer ser libertado neste exato momento?

Não, você diria

Mas é fato que ela te liberta do fardo que é a vida

E sabe porque a vida é um fardo?

Porque você a tornou um fardo

Colocou centenas de coisas que não precisava

Vive tudo que não queria para viver um fardo idealizado

A vida que você idealizou é um fardo

É um fardo. Porque você se desconectou

Se desconectou da vida

Se desconectou do que você gosta

Se desconectou da pipa, do peão e até do vídeo game

Porque tem que trabalhar

Aboliu o Peter e virou o Gancho

Você morreu e esqueceram de enterrar

Porque a vida perdeu o gosto

Se te perguntassem agora o gosto da vida, qual seria?

Amargo, doce, azedo?

Sua vida não é pé de limão para ser azedo, oras!

Vá dar um jeito na vida

Beija a quem é de beijo e abraça quem é de abraço

Vive, briga e se emociona

Viver é ter aquilo que te emociona

Pergunta: o que te emociona?

O que te emociona é o que lhe faz feliz

Questiona: o que te faz feliz?

Seja feliz! A vida é muito curta para ser vivida assim:

Tão sisuda

Tão ferina

Tão desconcertada e desajeitada

Toda errada

Como se não tivesse jeito

E reflita:

Ontem: o que tivesse feito que hoje não teria feito?

Amanhã: vive diferente do dia de ontem

Hoje: faz agora porque amanhã ...

TIC TAC

O jogo acaba e fim

Você não tem mais tempo




quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Texto bom

Texto bom é assim

Te pega

Te embaralha

Te amarra

Você emperra

Não existe mais nada

Só você e ele

Ele e você

É um namoro rápido, se poema

Se livro, pode levar meses

Anos

Décadas

Vidas

Centenas de anos

Perdidos em um livro

Em um texto

Que te pega

Te amarra

Te enlaça

Que nem um livro

E de repente

O tempo passa

E você se liga

Que o tempo é leve

E o texto fica


Foto: qmikola

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Depende

 Tudo ajuda

Tudo atrapalha

Depende...

Depende do observador

Se é pessimista

Se é otimista

Se é nobre senhor!

Sim, se é nobre senhor!

- Uai, mas por quê?

Porque rima com observador(!)

- Ah, Tá. Mas porque atrapalha?

Se não atrapalhar, atrapalha.

- Mas porque atrapalha?

Porque você anda, diacho?

- Porque eu preciso andar.

Exato, se não tivesse nada te forçando a andar, você não andaria.

- Mas andar é normal.

Sim, mas porque todo mundo mundo assim evoluiu

- Eu também?

Sim, diacho de ser humano.

- Como assim ser humano?

Uia, você não é um ser humano?

- Como você sabe, está me vendo?

Como assim?

- Nós somos apenas palavras, escritas pela mesma pessoa

Como assim?

- Não seja pessimista...



imagem: Paolo Nicolello 

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Eu era poeta

Eu era poeta

Não, não era

Eu escrevia poemas e poesias

Malabarismos com palavras fazia

Mas não era poeta

Eu era um bêbado, um boêmio, um trôpego

Escrito à luz do vinho

Que bebia a noite

E vomitava à lua

À rua me tornava

A rua me tornei

Em mansidão entranhada

O amor me tornei

Amava minha vida

Me amava quem era

As mulheres, os cigarros, a bebida

A ansiedade...

Tudo eu era

E nada me tornei

O que então eu sei?

Apenas que nada sei

Que nada era

Na vida em que fui rei

Fui vários nessa vida

Mais boêmio, mais sôfrego, mais ilustre

Pedestre, caminhante em direção ao nada

Que é o tudo

Que no luto diário me aflige

De tal forma que o peito rasgue

Ainda penso nela...

E isso tanto me persiste

Mas assim é a vida

De peito em riste

Eu a enfrento

Com poesia e lamento

Com poema arrebento

A solidão diária

Que relato solidário

Ao escravo, ao trabalhador, ao operário

Ao livre servo

Que seu pranto desterra

Que a poesia exalta

E tudo em volta

Transforma, expande e a vida encerra

Resplandecendo

Como no copo de poesia embebido

No sol do meio dia

Com cachaça regada ao gosto de trabalho

Com sabor de rescaldo

Com sabor de poesia

Em sopa de azia

Eu era poeta

Juro! As palavras construía




segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Sigam-me os bons

Sigam-me os bons
Sigam-me os de bem
Sigam-me os homens de bem

Sigam-me os injustiçados
Aqueles contrariados
Infelicidados
Ofendidos com o resultado

Sigam-me os bons
De raiva embrigados
Que se sentem injustiçados
Que sentem a veia fever
Que sentem ódio
E sentem vontade de botar pra fuder

Sigam-me os bons
Aqueles que não acreditam
Que sentem e transpiram de ódio
Que odeiam
O.D.E.IA.M
E sentem desprezo pelo irmão

Sigam-me os bons
Que vão a igreja
Rezam o Pai Nosso
Em profunda oração
Mas que na hora da raiva
Perdem a linha
E humilham em vão

Sigam-me os bons
Os homens de bem
Que são superiores
Que humilham
Que apontam o dedo
Esbravejam em vão

Sigam-me os bons
Que proclamam preconceito
Enchem a boca
Cospem na cara
De quem lhes limpa o chão

Sigam-me os bons
Que transpiram ódio
Que anseiam vingança
De todo coração

Sigam-me os bons
Sigam-me os de bem
Sigam-me os abastados
Sigam-me os endinheirados
Sigam-me aqueles que têm

A cabeça inculta
A serviz dura
A mente vazia
E o coração de pedra

Sigam-me os bons
Sigam-me para a luz
E verão que Jesus andou com pobres, bêbados e prostitutas
E com sofredores nordestinos também

Sigam-me os bons
E que Deus lhes abençõe
Que lhes abra a mente
Para enxergar naquele ente sofrente
Naquele que nem mais parece gente
O Deus que crucificamos, Jesus.

Sigam-me os bons
Sejamos bons
Sejamos mensageiros da paz
Sejamos pessoas realmente boas
E não um demônio voraz

Sigam-me os bons
E deixem o ódio para traz

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Barata de armário

Barata boa vida

Que não conhece

O lado sujo da avenida

Que delimita

A vida das baratas de esgoto

E daquelas que estão

Na boa vida


Criada a base

De leite pera

Sucrilhos, Nescau

E erva-cidreira

A barata gourmet

Não sabe o que é o ralo

Nem surfar pelo chuveiro


Não sabe nadar

Nem come sujeira

Mas sente ranço

Dos restos da pia

"Ai que nojeira!"


Barata de armário

Que não conhece a doidera

Não toma cerveja

Não foge de lagartixa

Nem come batata doce

À beira da fogueira


Ah! Barata!

Nada mateira

Te encontrei no meu armário

ZAP!

Vai para a lixeira