terça-feira, 7 de novembro de 2017

Ê Jãozinho

Chegou o dia da entrega da redação escolar e a professora ficou muito entusiasmada com as redações de suas fofuras de alunos. Menos com a do Jãozinho.

Jãozinho já apresentava, aos 7, tendências curiosas em seu comportamento e um certo ardor fervoroso por atividades que são recriminadas pela sociedade.

A Dóra, que era uma belezinha de menina, por exemplo, alimentava a sanha pela Medicina. Amava os animais e se não fosse "dotôra" de gente, certamente seria dos bichinhos. E seria, certamente seria.

Já o Ricardinho era o cara da sala, era bom de bola e seu sonho era ser ponta esquerda no Curíntia. E o rapazinho era talentoso mesmo. Driblava um, quebrava outro, colocava a bola na frente e haja pulmão para acompanhar o Ricardinho. Era GOOOOOL na certa.

Também tinha o Fernando. Esse era bom em tudo que era científico. Menino inteligente da Po"""" esse. Era bom de química e física e ficou amigo da rapaziada dando aquela força na prova de matemática. Afinal, não era bonito e ficava envergonhado na frente das garotas. Então resolvia seu lado fraco com essas compensações com os coleguinhas. Gente boa esse Fernando e futuro engenheiro do ITA.

E todos esses, reconhecendo seus respectivos e maravilhosos talentos, fizeram suas redações com base naquilo que acreditavam ter potencial. E o Jãozinho não era diferente, mas suas habilidades não eram, desde cedo, bem aceitas pela sociedade.

Mas o Jãozinho...

- Vem cá, Jãozinho!!!

- Que foi fessora?

- Ah! Jãozinho!

- Que eu fiz? Juro que não fui eu que passou cola na cadeira da Bruna!

- Cê fez isso também Jãozinho, foi?

- Ai...

- Depois a gente conversa disso! O papo agora é outro.

- Que papo, tia?

- Que redação é essa, João?

- Nossa, tia, por que a senhora tá me chamando com esse nome? A senhora nunca me chama assim. A senhora tá brava, tá?

- Não estou brava menino. Estou decepcionada.

- Nossa, fessora, o que eu fiz?

- Que diacho de redação é essa? É esse o seu sonho criatura? É para isso que eu dou um duro danado aqui com vocês?

- Ah é - disse a endiabrada miniatura de gente com o rosto enrubescido.

- Ah é! É só isso que você tem para me dizer, diacho? Que raio de redação é essa??? Como assim? Por que diacho você quer ser ASSALTANTE DE BANCO?

- Então, fessora, é que essa carreira é mais promissora que as outras. Ser jogador de futebol é para poucos e não tenho esse talento todo. Ser médico? Piorou, né? Tem que ser muito inteligente. E engenharia é difícil, sou ruim de conta.

- Nossa menino, que cabeça oca é essa sua? Você não acha que é capaz?

- Talvez eu até seja, fessora. Mas dá muito trabalho. Olha para a senhora...

- Como assim, menino? - Nesse momento a professora ficou perplexa e curiosa, ao mesmo tempo. - Anda logo, desembucha!

-Ah! A senhora sabe como é, né?

- Não sei não, desembucha!

- Ah, fessora eu gosto do trabalho que a senhora faz.

A professora então se sentiu elogiada, mas permaneceu em choque pela primeira opção de seu querido - endiabrado, mas querido - aluno. Afinal, ele tinha preferência por ser assaltante de banco que professor.

- Então, criatura, porque você não quer fazer o que eu faço?

- Ah, fessora, vou estudar muito, terminar todo o ensino básico, o colegial e fazer faculdade para ser professor? Dá muito trabalho e não ganha muito.

- Ah, então o safadinho quer ser assaltante de banco???

- Sim, fessora, porque é mais promissor.

- Como assim, diacho?

- É mais promissor porque exige menos conhecimento e os ganhos são mais rápidos.

- Meu Deus, criatura! - Ah! Professora já não estava mais se aguentando.

- É, fessora, e não quero fazer pelo resto da vida não.

- É, diacho! Até quando você quer fazer isso?

- Ah! Eu quero fazer uma vez só para conseguir um dinheirinho bom para ajudar minha mãe, coitadinha. Trabalha tanto e não tem o menor valor.

- E sua mãe ia gostar disso? De saber que você quer ajudá-la com dinheiro roubado?

- Não, fessora. Por isso vamos fazer um trato.

- Como assim? - Agora a professora ficou ainda mais assustada com a ousadia do moleque. E mais curiosa ainda.

- Sim, fessora. A senhora não conta para ela e eu ajudo a senhora quando eu tiver feito o roubo.

A professora achou aquilo uma baita maluquice e mandou o moleque fazer uma redação "decente".

E no fim tudo acabou bem.

Exceto quando a professora foi presa pela Polícia Federal, 20 anos após esta conversa, porque não soube explicar a procedência de 2 milhões que haviam sido depositados em sua conta.

Ê Jãozinho...


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